Estudo com pacientes obesos aponta alguns benefícios, como a melhora da disbiose intestinal
Estudos liderados pelos professores Franco Lajolo e Neuza Mariko Aymoto Hassimotto, responsáveis pelo Grupo de Estudos de Compostos Bioativos do Centro de Pesquisas em Alimentos (FORC) da Universidade de São Paulo (USP), indicam que o consumo do suco da laranja (de variedades diversas) pode aumentar a imunidade, reduzir a pressão arterial, regular a produção de insulina e promover mudanças no perfil de gorduras no sangue. Recentemente, a pesquisa ‘Pera orange and Moro blood orange juice improves oxidative stress and inflammatory response biomarkers and modulates the gut microbiota of individuals with insulin resistance and different obesity classes’, publicada na revista Obesities – derivado da tese de doutorado de Aline Alves de Santana –, mostrou que, além dos benefícios já conhecidos, o suco também pode atuar na modulação da microbiota intestinal em indivíduos com obesidade.
O experimento foi realizado com 23 pacientes do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, em São Paulo, com quadro de obesidade, resistência insulínica e pré-diabetes – condições que afetam negativamente a microbiota, levando à disbiose. “Durante os trabalhos, avaliamos os efeitos das variedades Pera e Moro, que apresentam quantidades similares de vitamina C e flavanonas, que são compostos bioativos relacionados a efeitos anti-inflamatório e antioxidante”, explica o pesquisador Eric de Castro Tobaruela, um dos autores do artigo. Nos primeiros 15 dias, cada indivíduo consumiu diariamente o suco de laranja natural (400 ml) de apenas uma variedade. Após esse período, ficou 40 dias sem ingerir qualquer suco e, na sequência, passou a consumir o suco da segunda variedade por mais 15 dias. O intervalo entre os dois sucos foi estabelecido para que o consumo de uma variedade não interferisse na resposta da outra.
Para assegurar a resposta apenas pela ingestão do suco, os pacientes foram orientados a restringir o consumo de frutas cítricas, café e chá, antibióticos, prebióticos e probióticos – de três dias antes do início até o término do ensaio clínico. O pesquisador comenta que, a partir dos resultados obtidos por meio de análises das fezes e do sangue dos pacientes, o consumo das duas variedades se mostrou eficaz. “Além da vitamina C, os efeitos podem estar associados à presença das flavanonas hesperidina e narirutina, compostos bioativos encontrados em frutas cítricas (especialmente nas laranjas), que são metabolizados pela microbiota intestinal e cujos compostos gerados são absorvidos pelo organismo”, descreve. Apesar de terem apurado os efeitos positivos nos dois tipos da fruta, os benefícios da laranja Moro foram um pouco mais acentuados. “A resposta para essa diferença pode estar na presença de antocianinas, substâncias responsáveis pela redução do estresse oxidativo e que conferem a pigmentação vermelha característica de plantas, vegetais e frutas, como morango, uva e laranja Moro”, detalha.
Variáveis
Mesmo tratando-se de uma intervenção de curto prazo, também foi possível observar que houve redução de biomarcadores de inflamação e uma melhora na resposta do sistema imune dos participantes do estudo, fatores que podem estar relacionados às mudanças da microbiota intestinal. Além disso, foram constatadas alterações em parâmetros lipídicos e biomarcadores de resposta inflamatória e estresse oxidativo. “Apesar da variabilidade interindividual, nosso estudo mostrou que pacientes com maiores graus de obesidade podem se beneficiar mais pelo consumo do suco de laranja, uma vez que este foi capaz de modular o perfil da microbiota, melhorando parcialmente a disbiose associada à obesidade. Além dos efeitos diretos, no longo prazo pode haver alteração da microbiota para um perfil mais saudável, facilitando a produção de ácidos graxos de cadeia curta que ofertam diversos benefícios à saúde do intestino”, destaca o pesquisador Eric de Castro Tobaruela.
Mesmo com os achados, os pesquisadores acreditam que o estudo pode não ter sido longo o suficiente para evidenciar os efeitos dos sucos sobre outros indicadores. “Sabemos que o tempo de exposição a um novo alimento é fundamental para o estabelecimento do benefício e a visualização da resposta metabólica. Diante disso, estudos com períodos mais longos de intervenção vêm sendo realizados pelo nosso grupo de pesquisa, visando reafirmar os achados atuais e melhorar os resultados de outros parâmetros e biomarcadores que, em um primeiro momento, não apresentaram alterações significativas”, avalia. Em um dos estudos seguintes, publicado recentemente na Frontiers in Microbiology, os pesquisadores aumentaram o consumo diário de suco de laranja Moro (500ml) para quatro semanas consecutivas para pessoas com sobrepeso, o que evidenciou associações entre bactérias específicas da microbiota intestinal e biomarcadores cardiometabólicos modulados positivamente, ampliando a resposta positiva do alimento.
O pesquisador acentua que tais constatações são importantes para que, no futuro, os profissionais de saúde possam proporcionar aos pacientes uma nutrição cada vez mais personalizada e assertiva. Além dos autores já citados, o trabalho publicado contou com a participação dos pesquisadores Carla R. Taddei, Karina Gama dos Santos e Luiz Gustavo Sparvoli, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP; Ronaldo Vagner Thomatieli dos Santos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); e Carlos Daniel Magnonida e Cristiane Kovacs do Amaral, do Instituto de Cardiologia do Hospital Dante Pazzanese.
Referência do artigo principal:
Santana AA, Tobaruela, EC, Santos KG, Sparvoli LG, Amaral CK, Magnoni CD, Taddei CR, Santos RVT, Hassimotto NMA, Lajolo FM. ‘Pera’ Orange and ‘Moro’ Blood Orange Juice Improves Oxidative Stress and Inflammatory Response Biomarkers and Modulates the Gut Microbiota of Individuals with Insulin Resistance and Different Obesity Classes. Obesities 2022; 2: 389–412. DOI: 10.3390/obesities2040033
Referência do artigo seguinte:
Corrêa TAF, Tobaruela EC, Capetini VC, Quintanilha BJ, Cortez RV, Taddei CR, Hassimotto NMA, Hoffmann C, Rogero MM, Lajolo FM. Blood orange juice intake changes specific bacteria of gut microbiota associated with cardiometabolic biomarkers. Frontiers in Microbiology 2023;14:1199383. DOI: 10.3389/fmicb.2023.1199383.