Considerada uma complicação da aterosclerose – doença crônica que afeta as artérias –, a aterotrombose é descrita como a formação de um coágulo sanguíneo em uma artéria já estreitada devido ao acúmulo de placas de gordura ou ateromas. Apesar da alta morbidade e mortalidade, diversas estratégias têm demonstrado redução relevante na prevenção de complicações secundárias. Entretanto, a aplicação dessas terapias na prática clínica tem sido insuficiente. Para documentar como funciona a prática atual na redução do risco cardiovascular de pacientes com doença arterial coronariana e periférica no Brasil, um estudo nacional teve como objetivo identificar as barreiras para uma melhor adesão às terapias baseadas em evidências.
O registro NEtwork to control AtheroThrombosis (NEAT) é um estudo observacional, prospectivo, nacional e multicêntrico. O objetivo é avaliar a proporção de pacientes com doença aterotrombótica (nos leitos arteriais coronários e periféricos) que, na visita inicial, estavam de acordo com as boas práticas médicas usadas para prevenção de complicações secundárias. Coordenado pelo Instituto de Pesquisa do HCor (IP- HCor), o NEAT incluiu mais de 2 mil pacientes com doença aterotrombótica de 25 centros de saúde do Brasil. Os participantes eram majoritariamente do sexo masculino e com fatores de risco como hipertensão e dislipidemia, comuns em mais de 80% dos casos.
O registro NEAT compreende métricas da saúde cardiovascular como tabagismo, índice de massa corporal, atividade física, colesterol, pressão arterial e níveis de glicose. Essas condições são correlacionadas a eventos cardiovasculares adversos maiores de longo prazo. Além disso, incluiu uma análise da prescrição de terapias baseadas em evidências. Como os registros anteriores relatados na prática clínica apresentavam limitações quanto à representatividade de pacientes com doença aterotrombótica, especificamente na população brasileira, houve carência de informações sobre a prática contemporânea.
Medicamentos
Ainda que exista uma lacuna importante para a maioria das classes de fármacos, incluindo estatina (especialmente de alta intensidade), inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA) ou terapias clássicas, o estudo mostrou que só 0,3% dos casos tinham todas as metas de prevenção adequadas. De acordo com os autores, apesar de a principal barreira de adesão à prevenção estar relacionada ao tipo de medicamento utilizado, o fato é que a ausência de indicação por julgamento médico foi a situação mais prevalente, relatada em mais da metade dos casos no geral.
“Tais informações podem, portanto, ser usadas no desenvolvimento de projetos de larga escala para melhorar a qualidade do atendimento e, consequentemente, contribuir para a redução do risco populacional de eventos cardiovasculares secundários”, afirmam. O artigo ‘Primary results of the Brazilian registry of atherothrombotic disease (NEAT)’ foi publicado em fevereiro de 2024 no periódico Scientific Reports.
