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Potenciais biomarcadores para rastreio, diagnóstico e monitoramento

Escrito por: Fernanda Ortiz

Apesar de ser uma enfermidade antiga, existe uma grande limitação em relação a testes laboratoriais com alto desempenho e baixo custo para diagnóstico da hanseníase. Recentemente, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) identificaram biomarcadores para rastreio, diagnóstico e monitoramento da doença. Realizado no Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com ênfase em Hanseníase do Hospital das Clínicas da FMRP entre 2020 e 2023, o estudo avaliou as amostras dos voluntários a partir da coleta de sangue para investigar os anticorpos contra a proteína Mce1A do bacilo causador. Os voluntários foram divididos em quatro grupos: novos casos sem poliquimioterapia, pacientes que já receberam tratamento, contatos domiciliares de pacientes em tratamento de poliquimioterapia e controles endêmicos saudáveis. Todos foram diagnosticados por avaliação clínica de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde e da OMS.

De acordo com o biomédico Filipe Rocha Lima, primeiro autor do estudo e doutor da FMRP-USP, a principal ideia foi encontrar novas moléculas que apresentassem maior eficácia para o diagnóstico. Por meio de um estudo transversal, os pesquisadores avaliaram a imunidade humoral e descreveram a acurácia do imunoensaio baseado em anticorpos IgA, IgM e IgG (moléculas que sinalizam o contato com o agente infeccioso e o estágio da infecção) contra a proteína de superfície Mce1A de M. leprae, que induz a invasão e a sobrevivência nas células do infectado. A avaliação foi realizada pela plataforma ELISA, que consegue dosar vários pacientes em uma mesma placa. “Quando dosamos três anticorpos em uma mesma placa pudemos ter uma maior capacidade de interpretação. Assim, avaliamos se o indivíduo estava doente, se já tinha recebido tratamento anterior ou se esteve em contato com outra pessoa infectada. Com isso, foi possível identificar que temos padrões diferentes de produtividade de acordo com o estado de saúde do paciente”, informa.

As estratégias de análise do trabalho visaram identificar pacientes com a doença independentemente da classificação clínica e de resultados laboratoriais, como PCR, baciloscopia e sorologia para α-PGL-I.  “Através das análises, observamos que o anticorpo IgA é uma molécula para identificação de contato com o bacilo da hanseníase, estando presente em todos os grupos avaliados no estudo. O anticorpo IgM foi um importante marcador para a doença ativa, uma vez que houve ausência de resultados positivos nos casos tratados. Já no IgG observou-se o maior número de exames positivos nos pacientes que receberam poliquimioterapia, indicando sinais de melhora da infecção e controle da doença”, comenta o pesquisador Filipe Rocha Lima. A incorporação dessa e de outras tecnologias laboratoriais para o diagnóstico precoce da hanseníase e a identificação dos indivíduos infectados permitirão o controle da cadeia de transmissão e da magnitude global da doença, conforme proposto pelas estratégias da OMS.

Próximos passos

Atualmente, os cientistas testam ­ensaios com amostras de diferentes regiões do Brasil para comparar com dados clínicos, laboratoriais e de outras técnicas existentes para o diagnóstico. “Os próximos passos envolvem a validação dessas moléculas de anticorpos contra a proteína Mce1A para prospecção de novos ensaios comerciais a serem implementados no SUS”, detalha o pesquisador. O estudo ‘Serological testing for Hansen’s disease diagnosis: Clinical significance and performance of IgA, IgM, and IgG antibodies against Mce1A protein’, publicado no periódico científico Frontiers in Medicine, foi orientado pelo professor doutor Marco Andrey Cipriani Frade, da FMRP, e teve a participação de pesquisadores do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com Ênfase em Hanseníase (CRNDSHansen) do HC-FMRP, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia).

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