O mesotelioma pleural maligno (MPM) é um tipo de câncer raro e muito agressivo, causado principalmente pela exposição ao amianto. Com sobrevida de 6 a 18 meses, a doença demanda a identificação urgente de novos marcadores preditivos prognósticos. Recentemente, um estudo conduzido por pesquisadores do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) sugeriu que a expressão da molécula mesotelina (MSLN), proteína sintetizada por células tumorais do mesotelioma, ajuda a prever a evolução clínica do paciente, podendo ser um potencial alvo terapêutico do MPM.
De acordo com os autores, é consenso que a exposição às fibras de amianto causam a morte das células mesoteliais humanas (HMs), particularmente suscetíveis à citoxidade. Entretanto, os efeitos combinados de HMs, macrófagos e a biopersistência de muitas fibras minerais permitem que algumas HMs evitem a morte celular e sofram transformação oncogênica.
Assim, a associação da doença com a carcinogênese induzida pelo amianto e a identificação dos genes envolvidos, como a mesotelina, são achados promissores. “Embora a proteína MSLN seja expressa em níveis baixos em HMs, é superexpressa em indivíduos expostos ao amianto e expressa de forma aberrante em vários tumores sólidos, incluindo câncer gástrico, pulmonar, pancreático e ovariano, bem como no mesotelioma”, destacam.
Metodologia
Por meio de um estudo retrospectivo, os pesquisadores analisaram amostras cirúrgicas e grandes biópsias de pacientes com mesotelioma maligno (MESO), incluindo pacientes em estágio III/IV e virgens de quimioterapia. As amostras foram obtidas em parceria com o Laboratório de Anatomia Patológica do Instituto do Coração (InCor), Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP) e Hospital das Clínicas da FMUSP.
Dos 246 casos de MESO identificados inicialmente foram excluídos diagnósticos de mesotelioma benigno e suas variantes (papilar, cístico bem diferenciado), casos com espécimes histológicos inadequados e aqueles submetidos para revisão externa. Por fim, 82 amostras foram incluídas no estudo. Além disso, foram coletados dados dos pacientes incluindo sexo, idade, histórico de exposição ao amianto, histologia, tratamentos realizados e tempo de sobrevivência.
Lâminas de microarranjos (microarrays) tecidual foram criadas para as 82 amostras e, sequencialmente, foram conduzidas em ensaios de imuno-histoquímica e imunofluorescência. “Usando a mesotelina e o PD-L1, fizemos a reação antígeno-anticorpo no tecido tumoral para detectar a expressão dos biomarcadores. Quando adicionado um fluorógeno, substância fluorescente, a mesotelina assume uma coloração acastanhada”, relatam os pesquisadores. Em seguida, as lâminas foram digitalizadas e analisadas usando um software chamado QuPath. Os cientistas indicam que, de acordo com a intensidade da coloração assumida pela mesotelina, foi possível determinar se estava hiperexpressa, hipoexpressa ou negativa.
Achados importantes
A combinação de agentes com proteínas de checkpoint imunológico é um tratamento promissor para o MPM, já que os conjugados de mesotelina e do anticorpo anti-PD-L1 têm como alvo específico inibir a migração e invasão as células neoplásicas, restaurando a paisagem imunológica. “Ao inibir a mesotelina, avaliamos que é possível reduzir a proliferação celular e, com isso, conter o crescimento tumoral”, descreve a médica patologista Vera Luiza Capelozzi, chefe do Laboratório de Genômica Pulmonar do Departamento de Patologia da FMUSP e uma das autoras do estudo.
A partir desses achados, atualmente a equipe de pesquisadores tem trabalhado na análise da mesotelina e do PD-L1 com o microambiente, avaliando fibras do colágeno e fibras elásticas. Esses componentes fibrilares da matriz extracelular possibilitam à célula migrar e ultrapassar as barreiras mecânicas criadas pelo organismo para evitar que a célula tumoral entre na circulação, causando metástase. Em resumo, a mesotelina pode ser um potencial alvo terapêutico do MPM. O artigo ‘Mesothelin expression remodeled the immune-matrix tumor microenvironment predicting the risk of death in patients with malignant pleural mesothelioma’ foi publicado na revista científica Frontiers em outubro de 2023.