Abordagens para tratar o declínio cognitivo

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Efeito cognitivo e emocional dos probióticos

Escrito por: Adenilde Bringel

Os avanços na medicina conduzem a um aumento no número de pessoas idosas e a um consequente aumento na ocorrência de problemas de saúde relacionados à idade. Já é sabido, por exemplo, que o envelhecimento leva o sistema nervoso central a sofrer uma série de mudanças como atrofia cerebral, aumento do estresse oxidativo e estado pró-inflamatório. Além disso, ocorre uma deterioração vascular levando ao comprometimento cognitivo e a distúrbios de humor. Neste contexto, cientistas buscam novas abordagens para tratar o declínio cognitivo e emocional na velhice.

Uma das abordagens recentes envolve a modulação da microbiota intestinal e sua relação com o envelhecimento. Esse ecossistema composto por microrganismos vivos que habitam o trato gastrointestinal humano é essencial para promover a absorção de nutrientes, proteger da invasão de patógenos, produzir metabólitos relacionados à homeostase energética e desempenhar um papel importante na modulação do sistema imunológico. Nos últimos anos, o surgimento do conceito de eixo intestino-cérebro como uma via de comunicação bidirecional entre o trato gastrointestinal e o cérebro tornou possível vincular distúrbios da microbiota intestinal a patologias neurodegenerativas. Dentre os exemplos estão doença de Alzheimer, doença de Parkinson e transtornos de humor, incluindo ansiedade e depressão.

De acordo com cientistas espanhóis, até o momento foi proposto que mudanças na

composição da microbiota intestinal, com diminuições na relação Firmicutes/Bacteroidetes ou aumentos nos metabólitos Clostridium spp., desencadeariam um ambiente neuroinflamatório. Além disso, ocorre uma disfunção mitocondrial ou estresse oxidativo promovendo comprometimento neuronal. “Estratégias direcionadas ao eixo intestino-cérebro usando probióticos estão surgindo para alcançar melhorias nos distúrbios neuropsiquiátricos e neurológicos. No entanto, o papel benéfico dos probióticos na função cerebral em idosos saudáveis permanece incerto”, acentuam os autores de um ensaio cruzado randomizado, duplo-cego controlado por placebo.

Abordagem

O objetivo dos cientistas era avaliar uma formulação probiótica de várias espécies como uma abordagem terapêutica para reduzir o declínio emocional e cognitivo associado ao envelhecimento em adultos saudáveis. Assim, o estudo envolveu uma intervenção de 10 semanas em que os participantes consumiam o produto probiótico atribuído diariamente, seguido de um período de lavagem de quatro semanas antes do início da segunda condição. A função cognitiva foi avaliada usando o Miniexame de Estado Mental (MMSE) e a Bateria de Teste de Linguagem de Construção de Experimentos Psicológicos. No nível emocional, o Inventário de Depressão Beck (BDI) e o Inventário de Ansiedade do Trajeto do Estado (STAI) foram usados.

O estudo clínico envolveu 33 participantes, recrutados de julho de 2020 a abril de 2022. Os participantes ingeriram um probiótico multiespécie (Lactobacillus rhamnosus Bifidobacterium lactis) ou placebo. O estudo incluiu um período de intervenção de 10 semanas e um período de washout de quatro semanas entre as duas condições. A cápsula multiespécie continha 3,3 bilhões de UFC de Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacterium lactis), ingerida após o café da manhã. Em relação ao placebo, cada cápsula continha amido de batata. “Ambas as intervenções eram indistinguíveis por embalagem, cor, sabor e cheiro”, afirmam os autores. Para avaliar a conformidade, os participantes traziam regularmente blisters de cápsulas consumidas para o local designado.

Resultados 

Após a intervenção, melhorias notáveis foram observadas na função cognitiva, memória e sintomas depressivos no grupo probiótico. Além disso, houve melhorias significativas observadas nas habilidades de planejamento e resolução de problemas, atenção seletiva, flexibilidade cognitiva, impulsividade e capacidade inibitória. De acordo com os cientistas, os probióticos poderão ser consideradas abordagens para tratar o declínio cognitivo nos idosos.  “A administração de probióticos melhorou a função cognitiva e emocional em idosos”, garantem os autores.

Entretanto, de acordo com os cientistas, as pesquisas limitadas exigem mais evidências científicas para o uso de probióticos como uma terapia eficaz para o declínio cognitivo. O estudo ‘Cognitive and emotional effect of a multi-species probiotic containing Lactobacillus rhamnosus and Bifidobacterium lactis in healthy older adults: a double‐blind randomized placebo‐controlled crossover trial’ foi publicado em junho de 2024 no periódico Springler Link.

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