Cepa estudada a mais de 90 anos

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| L. Shirota

Cepa estudada há quase 90 anos

Escrito por: Adenilde Bringel

Benefícios vão da diversidade da microbiota intestinal aos efeitos em desordens digestivas, imunológicas e do eixo intestino-cérebro

Cepa isolada em 1930 pelo médico e pesquisador Minoru Shirota, no Japão, o Lactobacillus casei Shirota (LcS) é uma das bactérias do ácido láctico mais estudadas do mundo, com milhares de artigos científicos publicados mostrando diversos benefícios à saúde. Cientistas do Instituto Central Yakult, localizado em Tóquio, desenvolvem pesquisas desde 1955 para aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento da microbiota intestinal e a atuação dos microrganismos, especialmente desta cepa exclusiva da Yakult, por meio de inúmeros estudos in vitro, in vivo e clínicos. Nas últimas décadas, cientistas de vários centros de pesquisas ao redor do mundo também têm se dedicado a aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento da microbiota intestinal a partir da atuação dos microrganismos indígenas, assim como comprovar a ação do LcS sobre o sistema gastrointestinal, diferentes tipos de câncer, sistema imunológico, doenças metabólicas e o eixo cérebro-intestino-microbiota.

Pesquisas sobre o efeito positivo do Lactobacillus casei Shirota em crianças e adultos que sofrem de desordens digestivas, por exemplo, têm incontáveis resultados positivos, e os benefícios para melhorar a constipação já são amplamente aceitos. Um dos estudos, desenvolvido por pesquisadores chineses, investigou os efeitos da cepa em indivíduos constipados e revelou que um metabólito mediador está envolvido no alívio da constipação induzida por LcS. O experimento envolveu 16 pacientes constipados e 22 não constipados, que consumiram 100ml de uma bebida com 108 UFC/ml (unidade formadora de colônias) de LcS por dia, durante 28 dias.

Segundo os autores, a intervenção melhorou significativamente a frequência de defecação, consistência das fezes e sintomas relacionados à constipação. No total, 14 metabólitos fecais não voláteis foram obtidos como potenciais metabólitos relacionados à constipação regulados pelo LcS, entre os quais o ácido pipecolínico (PIPA), que teve uma correlação positiva significativa com a frequência de defecação nos pacientes constipados e foi considerado um mediador metabólico no intestino que participou do alívio da constipação induzida pela cepa.

“Neste estudo, por métodos de metabolômica, revelamos que o PIPA era o potencial metabólito fecal não volátil funcional responsável pelo alívio da constipação mediada pelo LcS. Além disso, verificamos que o PIPA poderia atenuar os sintomas de constipação em um modelo de camundongo e que os neurotransmissores podem estar parcialmente envolvidos neste processo. Até onde sabemos, este é o primeiro estudo a mostrar o metabólito intestinal específico que é regulado pelos probióticos para aliviar a constipação”, afirmam os autores. A constipação é caracterizada por uma diminuição da motilidade colônica, que é afetada pela microbiota intestinal e por metabólitos derivados desse ambiente.

A função anticonstipação do LcS já havia sido avaliada anteriormente em diferentes populações, incluindo idosos, mulheres durante o puerpério, pacientes com doença renal terminal e populações saudáveis, com resultados que mostraram melhoras significativas na frequência de defecação, consistência das fezes, tempo de trânsito colônico e sintomas relacionados à constipação. Segundo os autores, estudos futuros devem verificar a função anticonstipação do PIPA e elucidar seus possíveis mecanismos. O estudo ‘Lactobacillus casei strain Shirota alleviates constipation in adults by increasing the pipecolinic acid level in the gut’ foi publicado na revista científica Frontier Microbiology em 2019 (Volume 10).

Para investigar os efeitos do L. casei Shirota em pacientes gastrectomizados, pesquisadores do Instituto Central Yakult desenvolveram um estudo com membros de uma associação denominada ‘Alpha Club’ (Post-Gastrectomy Patients Association). Um total de 118 pacientes diagnosticados com defecação anormal (constipação, diarreia e constipação + diarreia) participou do estudo randomizado, divididos em dois grupos: leite fermentado com LcS e placebo. O teste comparativo, duplo-cego, placebo controlado investigou os efeitos da ingestão do leite fermentado sobre os movimentos intestinais irregulares e na microbiota. O experimento teve oito semanas: duas de observação pré-consumo, quatro de consumo das amostras de testes e duas de acompanhamento pós-consumo. Os participantes ingeriram um frasco por dia de leite fermentado com 40 bilhões de LcS sem alterar o estilo de vida, mas foram orientados a não ingerir quaisquer outros alimentos lácteos fermentados ou contendo oligossacarídeos durante o experimento.

Após o período de testes, a cepa L. casei Shirota foi detectada na análise das fezes de participantes que tomaram o leite fermentado diariamente, e o grupo que apresentava diarreia mostrou melhoras em comparação ao período pré-ingestão. Os autores sugerem que o LcS pode ser útil no alívio da constipação devido à produção do ácido lático, que é o principal metabólito desse microrganismo em concentração suficiente, pois atua no estímulo do peristaltismo e contribui para a redução da constipação. No grupo com diarreia que ingeriu o leite fermentado com LcS, a contagem de Staphylococcus diminuiu em comparação com o período pré-ingestão. A enterotoxina produzida pelo Staphylococcus induz vômito, dor abdominal e diarreia via nervos vago e simpático distribuídos ao longo do trato intestinal. Os resultados indicam que a ingestão de LcS pode diminuir a concentração da toxina pela redução da contagem de Staphylococcus, aliviando a diarreia. Entretanto, os cientistas argumentam que a significância clínica permanece incerta e os resultados deverão ser avaliados mais vezes em estudos futuros. O estudo ‘Effects of the continuous intake of a milk drink containing Lactobacillus casei strain Shirota on abdominal symptoms, fecal microbiota, and metabolites in gastrectomized subjects’ foi publicado no Scandinavian Journal of Gastroenterology (49:5, 552-563).

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