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Alterações na microbiota nasal em pacientes com ELA

Escrito por: Fernanda Ortiz

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa grave caracterizada pela degeneração dos neurônios motores. Pacientes com ELA apresentam fraqueza muscular e paralisia progressiva, com tempo de sobrevida médio de 3 a 5 anos após o início dos sintomas. Embora a patogênese e os fatores genéticos ou ambientais latentes não sejam bem caracterizados, inúmeras evidências defendem que a neuroinflamação seja responsável pela condução do seu desenvolvimento.

A disbiose do microbioma intestinal tem sido identificada como possível fator de risco na fisiopatologia de doenças neurodegenerativas. Entretanto, os estudos ainda são incipientes sobre possíveis relações entre a microbiota nasal – ponto de acesso para bactérias que entram no corpo humano – e o sistema nervoso através da via nariz-cérebro. Em particular, interações complexas entre a microbiota nasal e o cérebro podem induzir efeitos patogênicos e afetar a resposta ao tratamento de algumas doenças neurológicas. No entanto, associações diretas entre microbiota nasal e ELA ainda não haviam sido investigadas.

Recentemente, o estudo ‘Alterations in nasal microbiota of patients with amyotrophic lateral sclerosis’ publicado no Chinese Medical Journal, usou o sequenciamento do gene do ácido desoxirribonucleico ribossomal 16S (rDNA) para investigar a composição da microbiota nasal em pacientes com ELA. O estudo conduzido por pesquisadores dos Departamentos de Medicina Respiratória e Cuidados Intensivos e de Neurologia do Hospital Afiliado da Fujian Medical University, na China, foi realizado com pacientes do hospital que atendiam os critérios diagnósticos de acordo com características demográficas, manifestações clínicas, história de tabagismo, diabetes mellitus e resultados de exames laboratoriais.

No total, o estudo contou com 66 casos de ELA e 40 cuidadores (grupo controle), incluídos para análise da composição e diversidade da microbiota nasal. Entre os pacientes, 15 foram classificados como ELA em estágio mais avançado e 51 com a manifestação leve. Para explorar a composição da microbiota nasal, os pesquisadores geraram um mapa de calor da abundância relativa dos táxons em nível de gênero, sendo Lactobacillus, Sphingomonas, Klebsiella, Gaiella e Lachnoclostridium mais abundantes nos pacientes com ELA, enquanto Lachnospiraceae_NK4A136_group, Alistipes, Polaribacter_1, Pelomas e Helicobacter foram mais abundantes no grupo controle.

Além disso, foi realizado o perfil funcional dos dados metagenômicos para identificar vias enriquecidas em cada grupo. Esta análise identificou 41 módulos de ortologia (KO) representados pela Enciclopédia de Genes e Genomas de Kyoto (KEGG), sendo 38 crescentes e 3 decrescentes. Gêneros diferenciais foram relacionados às vias de KEGG envolvidas na biossíntese e metabolismo glicano, sistema circulatório e sistema imune no grupo controle, enquanto vias enriquecidas foram envolvidas em tradução, metabolismo de nucleotídeos, adaptação ambiental, replicação e reparo no grupo ELA

Resultados

Os achados revelaram que as amostras de pacientes com ELA – desconsiderando a gravidade –, diferiram do grupo controle, sugerindo possível disbiose da microbiota nasal de pacientes com a doença. A descoberta de que táxons específicos diferiram significativamente em abundância entre os grupos indicou que algumas bactérias diferencialmente enriquecidas poderiam servir como táxons de assinatura para a doença. “Embora a amostra tenha sido suficiente para avaliar tais diferenças, pode não ter poder estatístico adequado para estabelecer um modelo diagnóstico validado para subgrupos, estratificação de risco e predição prognóstica”, afirmam os autores.

Com base no conhecimento atual, os pesquisadores destacam não ser possível concluir definitivamente se as alterações na microbiota nasal são a causa ou a consequência da ELA. Entretanto, o estudo fornece dados importantes sobre a disbiose na microbiota nasal desses pacientes, implicando um papel da via nariz-cérebro na influência da microbiota nasal na ELA. Trabalhos futuros investigarão a possibilidade de explorar as interações do microbioma nasal-hospedeiro em novas estratégias terapêuticas para o tratamento da doença.

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