Muitos pacientes recebem medicamentos, soluções, nutrição e transfusões por meio da terapia intravenosa. Essa terapia também é o principal método para oferecer medicamentos a neonatos internados nas unidades de terapia intensiva neonatais (UTIN). No entanto, o manuseio dessa técnica requer precisão, segurança e eficácia, especialmente com os recém-nascidos que possuem especificidades fisiológicas e necessitam de adaptação à vida extrauterina. Diante disso, é necessário um investimento em estratégias para a segurança desses pacientes, contribuindo para a tomada de decisão segura da equipe e, consequentemente, reduzindo incidentes. Um trabalho realizado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (EE-UFMG) foi ao encontro dessas necessidades e criou um algoritmo para o planejamento do processo de administração de medicamentos intravenosos a neonatos.
De acordo com a enfermeira Anna Caroline Leite Costa, doutoranda e autora do trabalho ‘Elaboração e validação do conteúdo de um algoritmo para o planejamento de administração de medicamentos intravenosos em neonatos’, dentro de uma UTI neonatal podem ocorrer muitos incidentes e eventos que tendem a ocasionar dano ao paciente. Neste contexto, o uso incorreto de medicamentos é um dos principais problemas. “Os erros relacionados ao uso de medicamentos ocorrem com frequência e possuem elevado risco de causar danos permanentes e fatais. Os mais frequentes incluem a administração em hora incorreta, paciente incorreto, via inapropriada, superdosagem, administração duplicada e tempo de infusão inadequado”, pontua a pesquisadora, que atua no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
A escolha pelo uso de algoritmo ocorreu por causa da incorporação desse sistema no âmbito da saúde nos últimos anos. O uso de algoritmos como forma de organização, sistematização e padronização de processos e técnicas capazes de orientar tomadas de decisão na prática assistencial tem trazido muitos benefícios na área da saúde. No entanto, a doutoranda observou que não havia algoritmos que ajudassem os profissionais da saúde quando os pacientes são recém-nascidos com necessidades específicas. O projeto desenvolvido em formato de fluxograma de decisão apresenta uma sequência de instruções ligadas à orientação da equipe de Enfermagem para que administre os medicamentos intravenosos nos recém-nascidos.
“Durante o desenvolvimento do projeto, levamos em consideração a acessibilidade e a fácil identificação do algoritmo. Por isso, o fluxograma foi desenvolvido de modo que possa ser impresso e fixado dentro da UTIN eliminando a necessidade de acessar o computador, uma vez que nem todos os pontos de assistência possuem a mesma infraestrutura”, ressalta a pesquisadora. Outro diferencial é que este algoritmo é direcionado ao enfermeiro, que é o responsável pelo planejamento da assistência e a quem cabe a inclusão de toda a equipe no processo de tomada de decisão, além de orientação e direcionamento quanto às condutas escolhidas para cada paciente.
Entre os pontos abordados pelo algoritmo estão a escolha do melhor acesso intravenoso, o número de medicamentos que o paciente está recebendo e os cuidados durante todo o processo de administração de medicamentos, incluindo indicação da assepsia correta, manutenção dos cateteres, dupla checagem de medicamentos potencialmente perigosos, manutenção dos cateteres intravenosos e cuidados durante a infusão de medicamentos. O trabalho também visa englobar os detalhes das situações que aproximam a teoria com a prática na assistência. Para a elaboração do algoritmo foi realizada uma revisão de escopo, com artigos científicos e referência de livros e manuais. Depois de pronto, o projeto passou pelo processo de validação com 14 especialistas de todo o País. “Embora o estudo tenha contemplado a validação de conteúdo, ainda não houve validação na prática clínica para que os hospitais e as equipes verifiquem a usabilidade, efetividade e o tempo desprendido para a utilização”, acentua a autora da ferramenta, que tem uma próxima etapa a ser desenvolvida.•