A alergia à proteína do leite e a microbioma fecal

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Alergia à proteína do leite e a microbioma fecal

Escrito por: Fernanda Ortiz

O desenvolvimento do microbioma intestinal durante o primeiro ano de vida é influenciado por vários fatores, como tipo de parto, amamentação, uso de antibióticos e alimentação

Microbiota fecal # Metaproteômica # Alergia em bebês

O desenvolvimento do microbioma intestinal durante o primeiro ano de vida é influenciado por vários fatores, como tipo de parto, amamentação, uso de antibióticos e alimentação. Inúmeros estudos fornecem evidências da associação entre a disbiose no início da vida e o desenvolvimento de alergias alimentares. Recentemente, pesquisadores do Laboratório de Microbiologia da Universidade de Wageningen, na Holanda, estudaram a composição da microbiota fecal por meio do sequenciamento do amplicon gene 16S rRNA, e a funcionalidade do microbioma fecal (metaproteômica) em um estudo coorte de 40 bebês com diagnóstico de alergia à proteína do leite de vaca (APLV).

O estudoAssessment of infant outgrowth of cow’s milk allergy in relation to the faecal microbiome and metaproteome’, publicado na revista Nature, analisou a composição da microbiota fecal dos bebês em três momentos: diretamente após o diagnóstico, e com 6 e 12 meses após a entrada no estudo. O objetivo era obter informações sobre os parâmetros do microbioma intestinal em relação à evolução do quadro alérgico. Para o diagnóstico de APLV foram consideradas crianças com anticorpo da imunoglobulina E (IgE) sérica específica superior a 0,1 kU/L, com resultado do teste cutâneo de picada para o leite com pápulas de tamanho ≥3 mm e histórico de reação anafilática à ingestão isolada ao leite confirmada por dois médicos.

Os bebês, com idade entre 3 e 13 meses na consulta inicial, foram divididos em dois grupos. Um recebeu uma fórmula à base de aminoácidos (AAF), enquanto outro recebeu AAF com uma mistura simbiótica (AAF-syn) – oligossacarídeos (oligofrutose, inulina) + Bifidobacterium breve M-16V.  Após 12 meses, o crescimento da APLV não foi diferente entre os dois grupos que apresentaram crescimento natural do quadro alérgico. Entre os bebês, 24 (10 bebês no grupo AAF e 14 bebês no grupo AAF-syn) superaram a alergia ao leite de vaca após 12 meses, 15 crianças (seis no grupo AAF e nove no grupo AAF-syn) ainda eram alérgicas à proteína do leite, e uma foi descartada do estudo, pois apresentou resultados inconclusivos.

Tanto para a metaproteômica quanto para o sequenciamento do amplicon do gene 16S rRNA, 120 amostras foram coletadas. O DNA foi extraído de amostras para, depois, sequenciar os amplicons do gene 16S rRNA. Nos dois grupos, os resultados mostraram abundâncias relativas mais elevadas das famílias Butyricicoccaceae e Monoglobaceae na visita aos 12 meses, em comparação com a linha de base, o que sugere que essas famílias de bactérias mudam à medida que as crianças crescem. No nível do gene 16S rRNA, o crescimento da alergia ao leite de vaca é caracterizado por menor abundância relativa de Lachnospiraceae na linha de base e Bacteroidaceae inferiores na visita de 12 meses.

Os resultados do estudo mostram que as diferenças do microbioma relacionadas ao crescimento da alergia ao leite de vaca podem ser identificadas principalmente no nível taxonômico do gene 16S rRNA e, em menor grau, na taxonomia microbiana baseada no nível de proteínas funcionais. Ao comparar os grupos de alergia nas visitas, o único resultado significativo em nível familiar foram as Eggerthellaceae mais elevadas no início do estudo e as Veillonellaceae mais elevadas na visita aos seis meses.

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