A ferroptose é um processo de morte celular regulado, dependente de ferro e impulsionado pela peroxidação lipídica, que tem ganhado cada vez mais atenção de estudiosos. Várias vias fisiológicas parecem contribuir para sua regulação, entre elas a microbiota intestinal, que fornece nutrientes e energia ao hospedeiro e desempenha um papel crucial na modulação imunológica e no equilíbrio metabólico. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Zhengzhou, na China, publicaram um estudo de revisão que aborda a influência e regulação da ferroptose pela microbiota intestinal no contexto da doença renal crônica. Esta análise pode fornecer novos insights sobre os mecanismos da doença, assim como desenvolver estratégias de tratamento.
A doença renal crônica (DRC) é uma condição progressiva prevalente, caracterizada por estrutura renal anormal e disfunção resultante de várias condições subjacentes. Como órgão responsável pela excreção e reabsorção de metabólitos, o rim é altamente suscetível a perturbações no equilíbrio redox. Os autores explicam que quando o acúmulo intracelular de ferro e o sistema redox ficam desequilibrados ocorre produção excessiva de peróxidos lipídicos induzindo, em última análise, a ferroptose. “Além disso, a DRC está associada a distúrbios do metabolismo e ao acúmulo lipídico, o que pode ativar o sistema imunológico inato, promover fibrose inflamatória, desencadear danos às células mitocondriais e renais e impulsionar a progressão da doença”, descrevem.
Os autores destacam que, de acordo com os estudos revisados, a microbiota intestinal e seus metabólitos apresentam alvos terapêuticos intrigantes para retardar a progressão da DRC e reduzir a toxicidade urêmica. “Pelos achados, a microbiota intestinal afeta a ferroptose, regulando o metabolismo do ferro e metabólitos relacionados, fazendo com que o ambiente intestinal desempenhe um papel crucial na progressão da DRC”, comentam. Ao estudar exaustivamente tal relação, novos conhecimentos podem ser obtidos para estratégias personalizadas, como dietas e intervenções microbianas.
Mais evidências
Apesar de numerosos estudos demonstrarem indiretamente uma ligação entre a ferroptose e a microbiota intestinal, faltam evidências robustas que apoiem diretamente a relação causal. Além disso, o papel específico da microbiota intestinal na regulação da ferroptose e os principais fatores reguladores envolvidos requerem uma discussão mais aprofundada.
Entre as questões não resolvidas que merecem um estudo mais aprofundado, os pesquisadores citam o papel da microbiota e dos metabólitos específicos; mecanismos de modulação da microbiota intestinal, investigando sua influência no sistema de defesa contra a ferroptose; e a influência das intervenções que regulam a microbiota intestinal como probióticos, prebióticos e transplante de microbiota fecal, na ferroptose. O artigo ‘Ferroptosis: a potential bridge linking gut microbiota and chronic kidney disease’ foi publicado em maio de 2024 na revista Nature.
